Com a chegada do outono e outros fatores, os atendimentos adultos tem demonstrado crescimento nos últimos meses, resultando em registros de superlotações em unidades de urgência e emergência em Santa Maria. Na quinta-feira, três Pronto-Atendimentos da rede pública atenderam 638 pacientes ao todo. Deste quantitativo, 525 foram classificados como pouco urgentes ou normais, a partir da classificação de risco do Sistema Único de Saúde (SUS).
Em outras palavras, 82% desses pacientes poderiam ter buscado uma das 33 unidades de saúde do município para obter uma resolução para o problema enfrentado. A reportagem conta com dados relativos aos atendimentos realizados no dia 26 de maio pelo Pronto-Atendimento Municipal, no Bairro Patronato; pela Policlínica e Pronto-Atendimento Ruben Noal, no Bairro Tancredo Neves e pela Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) 24h.
Ministério da Saúde anuncia ampliação da dose de reforço contra a Covid-19 para adolescentes
CLASSIFICAÇÃO DE RISCO
Às 12h30min de sexta-feira, uma mulher de 47 anos buscou assistência no Pronto-Atendimento Municipal, no Bairro Patronato. Ela relata ter chegado ao local para realizar um teste de Covid-19, uma vez que apresenta sintomas como febre, tosse, garganta seca e precisa descartar a doença para retornar ao trabalho. Ao passar pela triagem do PA do Patronado, ela foi informada que local não realizava testagem contra a doença e que o lugar mais adequado para fazer a solicitação é o Centro de Referência ao Covid-19, no Bairro Nossa Senhora de Lourdes.
Mesmo assim, a mulher resolve aguardar pelo atendimento médico na unidade, recebendo a classificação verde. Conforme o caderno Acolhimento e classificação de risco nos serviços de urgência, publicado pelo Ministério da Saúde em 2009, a classificação de risco é uma ferramenta que, além de organizar a fila de espera e acolher o cidadão, também visa:
garantir o atendimento imediato do usuário com grau de risco elevado; propor outra ordem de atendimento que não a ordem de chegada;informar o paciente e seus familiares que não corre risco imediato, prevendo assim o provável tempo de espera; aumentar a satisfação dos usuários e, principalmente, possibilitar e instigar a pactuação e a construção de redes internas e externas de atendimento.
No Brasil, assim como em outros países, a classificação de risco é baseada no protocolo de Manchester, que orienta o profissional da saúde a utilizar cores pré-determinadas para realizar a triagem do pacientes. Cinco cores, que vão do vermelho ao azul, são classificados os casos do mais ao menos grave. Confira abaixo:
Vermelho (emergência) – O paciente classificado com esta cor precisa de atendimento imediato, pois corre risco iminente de morte. Exemplos: parada cardiorrespiratória, infarto, politrauma, choque hipovolêmico, etc;Laranja (muito urgente) – Trata-se de um paciente grave e que necessita de atendimento praticamente imediato. Tempo de espera: até 10 minutos. Exemplos: traumatismo craniano sem perda de consciência, queimaduras leves, convulsões, idosos, etc.Amarelo (urgente) – Paciente com gravidade moderado, mas que pode esperar. Tempo de espera: até 50 minutos. Exemplos: ferimentos cranianos menores, dor abdominal difusa, diarreias, etc.Verde (pouco urgente) – Paciente que pode aguardar por atendimento ou ser encaminhado para outro serviço de saúde. Tempo de espera: até 120 minutos. Exemplos: queixas crônicas, resfriados, contusões, dor de garganta, etc. Azul (normal) – Paciente sem risco de vida, que pode esperar por atendimento ou ser encaminhado para outro serviço de saúde. Tempo de espera: até 240 minutos.
Para essa classificação, diversos fatores são levados em consideração como: dor, sinais vitais, pressão, sintomas, entre outros. Conforme a prefeitura de Santa Maria, o Pronto-Atendimento do Patronato tem classificação de risco desde 2014, e a primeira capacitação ocorreu em 2017. Já a UPA 24h utiliza a classificação desde 2012. Há cinco anos, o PA Ruben Noal utiliza o protocolo para triar a demanda de atendimentos.
Hospital Regional de Santa Maria realiza primeiro procedimento de CPRE
PA DO PATRONATO
A coordenadora administrativa do Pronto-Atendimento Municipal, Verônica Martins Camargo, conta que o aumento do número de atendimentos não urgentes ou normais vem sendo observado desde o inicio do ano. Dos primeiros quatro meses de 2022, janeiro foi que mais registrou pessoas nessas duas classificações. Foram 7,6 mil pessoas com a pulseira verde e 113 com azul.
–As pessoas vêm direto no PA, porque sabem que vão ser atendidas mais rápido. Só que nosso serviço prestado é para urgência e emergência, para pessoas que não estão bem. Mas, pessoas que poderiam ser atendidas em uma UBS ou ESF vêm para cá. Isso é uma realidade que acontece há bastante tempo, já se tornou cultural – argumenta.
Na quinta-feira, foram atendidos 148 pessoas, sendo que 110 casos eram não urgentes e comuns. Veja a lista:
ATENDIMENTOS ADULTOS NO PA DO PATRONATO (POR CLASSIFICAÇÃO DE RISCO)
26/05 – Total de atendimentos: 148*
Emergência (vermelho) – 1Muito urgente (laranja) – 11Urgente (amarelo) – 26Pouco urgente (verde) – 109Normal (azul) – 1
*última atualização às 16h52min de quinta-feira
PA RUBEN NOAL
No Bairro Tancredo Neves, o Pronto-Atendimento Ruben Noal vive uma situação semelhante ao PA do Patronato, lidando uma demanda de pessoas que buscam resoluções imediatas.
–Muitos usuários são de cores verde e azul na classificação de Manchester, que poderiam ser atendidos nas atenção básica, mas eles não saem daqui sem atendimento. Eles vêm aqui porque temos uma resolutividade maior para atendimentos e para realizar exames – afirma a enfermeira responsável do Pronto-Atendimento, Sandra Hertz.
Apesar da chuva de quinta-feira, dos 155 atendimentos, 119 foram classificados como verdes e azuis.
ATENDIMENTOS ADULTOS NO PA RUBEN NOAL (POR CLASSIFICAÇÃO DE RISCO)
26/05 – Total de atendimentos: 155
Muito urgente (laranja) – 09Urgente (amarelo)– 27Pouco urgente (verde) – 113Normal (azul) – 6
UPA 24H
Para a administradora da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) 24h, Manuela Trevisan, a alta demanda faz um alerta a questões que vão além da assistência à saúde em Santa Maria.
–Falta a população entender em que momento procurar o pronto-atendimento. Uma unidade que atende 24 horas tem um perfil diferente de uma Unidade Básica de Saúde. Acontece que as pessoas, às vezes, não têm a informação correta, ou acham que o problema não foi sanado e nos procuram – afirma.
Por conta disso, desde abril deste ano, a UPA 24h conta com cartazes que explicam, por exemplo, a classificação de risco, as atribuições de um pronto-atendimento e de uma unidade de saúde, permitindo que os próprios pacientes escolham se desejam passar pela triagem e esperar por atendimento, conforme a classificação recebida. Apesar disso, 296 atendimentos (de um total de 335) de quinta-feira foram de pouca urgência e normais.
ATENDIMENTOS ADULTOS EM NÚMEROS NO UPA 24H (POR CLASSIFICAÇÃO DE RISCO)
26/05 – Total de atendimentos: 335
Muito urgente (laranja) – 03Urgente (amarelo) – 36Pouco urgente (verde) – 271Normal (azul) – 25
CUIDADO A LONGO PRAZO
Apesar da maior parte das pessoas que buscam assistência nos prontos atendimentos desejarem uma solução imediata, é preciso pensar a longo prazo. Santa Maria conta com 33 unidades de saúde, entre Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e Estratégias de Saúde da Familia (ESFs). Nestes espaços, que formam a Atenção Primaria à Saúde, são realizadas ações de acolhimento a longo prazo do paciente. Segundo a superintendente da Atenção Básica de Santa Maria, Daiany Donaduzzi, são acompanhados dois tipos de demanda:
–Após o acolhimento, é categorizado como demanda espontânea aquela pessoa que chegou na unidade e precisa de atendimento, como uma gestante que chega para a primeira consulta do pré-natal. A demanda programada é destinada às pessoas com doenças crônicas, como hipertensão ou diabetes, que estão com receita de medicamentos, por exemplo. Neste caso, eles são agendados para outra data.
Atualmente, a população pode buscar as unidades de saúde para realizar consultas, exames de prevenção de diversas doenças, curativos, nebulizações, administração de medicamentos, aferição de sinais e de pressão, assim como para testes rápidos de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), coleta de PCR para testagem de Covid-19 e outros procedimentos.
Para possibilitar assistência a população santa-mariense por mais tempo, cinco unidades de saúde tem funcionado em turno estendido, das 17h às 19h30min. Daiany afirma, inclusive, que neste horário, os postos são ‘porta aberta’ para todos, independente do território em que mora o paciente. São elas: UBS Wilson Paulo Noal (segunda e quinta-feiras) e UBS Walter Aita (quarta-feira), ambos no Bairro Camobi; ESF Passo das Tropas (terça-feira); ESF Itararé (sexta-feira); UBS José Erasmo Crossetti (quarta-feira), no Bairro Centro.
por Arianne Lima ([email protected]). Colaborou Gabriel Marques ([email protected])